Friday 9 October 2009

O Rei apaixonado… pela Pátria e pela Rainha

O primeiro Rei Pedro, foi apaixonado por Inês, tudo tendo terminado no drama mais narrado da História de Portugal.
O último Rei Pedro, protagoniza também um belo romance de amor, que na época foi o exemplo para todo o povo, mas que nunca foi na prosa ou no verso, tão enaltecido.

D. Pedro V, foi dos Reis mais ansiados da História de Portugal, talvez apenas suplantado nesse desejo popular por D. Sebastião. Foi aclamado pelas Cortes no próprio dia em que completou dezoito anos de idade. A 16 de Setembro de 1855.
O belo Rei, filho primogénito de D. Maria II e de D. Fernando, era um belo e distinto jovem, cuja educação e princípios a todos impressionava. Adorava a sua família, em especial os seus nove irmãos. O seu carinho pelos irmãos está registado em variadíssima documentação e todos também tinham por ele adoração e respeito.
Desde a morte de sua mãe, no dia do parto do seu 11º filho, D. Pedro que tinha apenas dezasseis anos, partiu para a Corte da Rainha Vitória, preparando-se para ser um justo Chefe de Estado.
Das suas viagens pela Europa, D. Pedro escreve “Diário”-relatos das suas viagens, publicado pela Academia das Ciências (2 volumes), que é revelador do talento e perspicácia do jovem Príncipe, da sua cultura e simultaneamente uma riquíssima e interessante fotografia da Europa da sua época.
Foi na Corte vitoriana que se tornou amigo íntimo e confidente do Príncipe Alberto, marido da Rainha. Esta relação de confidência e amizade, perdurou ao longo da sua curta vida, a partir de então. O Príncipe Alberto era primo direito de D. Pedro, pois sua mãe era irmã de D. Fernando.
O Rei D.Pedro V, foi um Chefe de Estado consciente, sempre equilibrado perante a sua enorme generosidade e preocupação com o povo e o respeito pela legalidade estabelecida.
Um jovem com um enorme sentido de Estado e um interesse pela coisa pública que lhe exigia por dever de consciência tomadas de posição sensatas, mas de uma determinação incrível.
Ele que tinha sido o Rei tão ansiado, era agora o mais digno Chefe de Estado. Todo o povo, isso reconhecia e por isso o adorava, toda a classe política o sentia e por isso o respeitava.
Alguns excertos de cartas que enviou ao Príncipe Alberto dão-nos a exacta noção da sua sensibilidade política e do grau de intimidade dos dois primos…
“ Num país como Portugal, que há muito tempo tem sido governado pela intriga, eu não me podia imiscuir nos negócios públicos durante a Regência de meu pai. Portanto, até ao dia 16 de Setembro, tive o cuidado de me manter afastado de tudo e não perdi nada com isso.»
“ É verdade que o sistema de tolerância que foi característico de meu pai – e que se deve reconhecer não foi possível no tempo de minha mãe – fez coisa boa…”
«Mantive o mesmo Ministério, pois não podia começar o meu reinado queixando-me da orientação dada pela Regência…, devo agora começar o meu treino prático na política…. Até agora não tenho de me queixar por parte do meu pai. Aconteceu o que tinha previsto – ele já não se interessa pelos negócios públicos. Infelizmente Kessler & C.ª estão mais poderosos que nunca.”
“ …a visita ao Brasil ainda ocupa o primeiro lugar dos seus planos. Nada tenho a dizer contra isso, mas eu não gosto nada desta sua ânsia constante de romance.»
“ das três às cinco, saio sempre que possível, para um passeio a cavalo, durante o qual muitas vezes visito instituições públicas, quartéis, hospitais, etc. Isto mantém alerta os indolentes.» ( carta ao Príncipe Alberto 28 de Novembro de 1855)
“ como as minhas visitas nunca são anunciadas, posso estudar muito melhor as condições existentes. Há três dias achei os quartéis de artilharia num estado de porcaria verdadeiramente portuguesa e tive de exprimir a minha opinião sobre o assunto. Ontem fui ao fui a um hospital que encontrei em melhor estado e por isso tive de fazer elogios.”
“ …até pela seca que sempre me causou o ter de tirar o meu retrato…»
“ O Saldanha está incógnito em Paris e casou com uma inglesa que para isso se tornou católica.” ( confidencia ao Príncipe Alberto )
A determinação interventiva de D. Pedro V, está evidenciada em comunicações escritas que enviou ao Duque de Saldanha, quando este era Presidente do Conselho de Ministros.
Extratos de uma carta de onze páginas…
( O REI ainda não tinha completado vinte anos )
“ …o empréstimo negociado em Londres por Fontes Pereira de Melo, tem de ser renegociado…ele nos seus termos é absolutamente ruinoso para o país.”
“ sobre o concurso internacional para os caminhos de ferro é exigido que ele corresponda às regras de independência normais, o que não me parece ser o caso”
“ Lamento o tristíssimo espectáculo que a Câmara dos Pares está dando ao país, entrei numa análise da sua composição, considero prejudiciais as nomeações de Pares para fazer uma lei de que um Ministério faça depender a sua existência.»
“ O Duque viu como tratei esta questão tão séria…Sem rodeios…a maioria de hoje é a oposição de amanhã…ao governo pertence agora pela sua conduta corresponder.»
“ Peço pois ao Duque que tanto o que hoje lhe disse, como esta carta fiquem em segredo entre o Duque e os seus colegas somente. O contrário só poderia acarretar males. Julgo este segredo indispensável para sair bem desta situação.»
Posteriormente escreve a Saldanha, citando para esta decisão toda a legislação em vigor:
“ …não desejo autorizar medida alguma que não tenha estudado.»
Este jovem Rei, com uma personalidade forte e uma aparência distinta, era simultaneamente um Homem completamente apaixonado por uma mulher.
Casou com a Princesa D. Estefânia Hohenzollern-Sigmaringen. O casamento realizou-se em Dresden, por procuração a 18 de Maio de 1858.
D. Pedro só conheceu pessoalmente sua mulher, quando ela chegou com pompa e circunstância a Lisboa. As fotografias que tinham apreciado um do outro, que já tinham suscitado a simpatia, foram completamente apagadas da sua memória, pela imensa impressão causada no seu primeiro encontro.
Ambos estavam disponíveis para aprender a amar-se mutuamente, mas a paixão fulminou-os.
Confessava a Rainha…“ nós somos dois adolescentes…quando Pedro saiu para caçar durante três dias …trocamos correspondência escrevendo quatro cartas cada um. “
Em Sintra, tantas tardes podiam ser vistos a passear de braço dado, um jovem casal de namorados…que por serem tão evidentemente apaixonados, ninguém ousava incomodar, apenas sorrir e cumprimentar…eram o Rei e a Rainha.
Antes de morrer em Junho de 1859, a rainha Dona Estefânia pedia …
“consolem o meu Pedro”
O Rei escrevia a seu primo Alberto :
«… o meu coração aturdido e quebrado ainda não pode dizer quão profundamente eu adorava a minha querida Estefânea. A horrível desolação que me rodeia depois do desaparecimento da sua imagem é bastante para me mostrar o que perdi. Perante a ausência no presente, a memória recorda somente os encantadores e desaparecidos dias e o meu espírito inquieto luta constantemente para compreender o pleno significado da minha enorme tragédia. O que sentia pela minha Estefanea era mais do que amor; assemelhava-se a adoração…sem conforto, sem nada para distrair os meus pensamentos, faço frente à minha obrigação que se torna cada vez mais dura. O que me encoraja são as ultimas palavras da adorada que perdi : “ Vive para a tua mulher, ela estará sempre a teu lado.” »

Em Outubro de 1861, D. Pedro faz uma viagem fatídica ao Alentejo, acompanhado por seus dois irmãos D. Augusto e D. Fernando. Nessa viagem são infectados pelo Paludismo. D. Fernando é o primeiro a morrer, segue-se o Rei e posteriormente D, Augusto.
Os Infantes D. Luís e D. João que viajavam pelo estrangeiro regressam de imediato a Portugal. D. João também apanha a mesma doença e morre também.
No Natal desse ano acontecem tumultos em Lisboa, pois falava-se de assassínio em massa da casa Real. Foi então que José Estevão publicou a celebre frase…” É a anarquia da dor protestando contra o despotismo da morte”
O Funeral Real foi uma enorme manifestação da paixão do povo para com o seu jovem e culto Rei. Centenas de milhares de pessoas choravam à passagem do cortejo fúnebre.
Diz Bulhão Pato sobre o enterro de D.Pedro V…

“ Foi a primeira vez que vi Alexandre Herculano chorar como uma criança”

Em memória dos 150 anos do falecimento da Rainha D. Estefânia
Almeirim 9 de Outubro de 2009
José J. Lima Monteiro Andrade

1 comment:

  1. O tal fado português...o que teria sido o nosso país se ele não tem morrido cedo?...
    Azar muito azar!

    ReplyDelete